terça-feira, 23 de janeiro de 2018

ANSIEDADE E EXPECTATIVA

ANSIEDADE E EXPECTATIVA

Ansiedade e expectativa.
Sol escaldante. Pela estrada afora, a carroça puxada por uma junta de bois, carregada de alguns trastes e principalmente ferramentas. Uma reta que parecia não ter fim riscava a chapada agreste, onde não se via sequer uma choupana de buriti. Algumas pessoas, cansadas, tostadas pelo sol inclemente, acompanhavam a carroça. A sede, o cansaço parecia não abater a vontade e o ânimo daqueles que buscavam atingir a meta, ou seja, chegar à terra prometida. Isto mesmo, a terra prometida. Perseguida por muito tempo falta ainda a última etapa. Depois de longa caminhada, naquele mesmo dia, chegaria ao termo a penosa jornada. A paisagem parecia não mudar; qual viandante pelo deserto, não restava senão caminhar... caminhar...
A tarde foi chegando, caindo devagar, naquele verão de tão pouca chuva, o que agravava mais o calor. Após transpor a ponte do Gado Bravo que na época era uma grande ponte de madeira, pequena parada numa morada à beira da estrada para tomar um copo de água. A partir daí a estrada tomou outro rumo. Estreita, mal cabendo o carro de bois, foi-se embrenhado pelo cerrado adentro. Os primeiros animais de hábitos noturnos, começaram a bulhar nos arbustos em torno. Exaustos, os caminhantes começaram notar alguma diferença demonstrando sinais de alguma benfeitoria o que dava a esperança de que estava próxima a etapa final. A noite estava começando, dificultando a visão no discernimento do que havia pela frente. De repente, algo parecendo o espelho de uma lagoa começou avultar diante dos olhos. Após transpor uma antiga porteira, o grupo prosseguiu chegando finalmente ao terreiro da velha edificação. Um morador, com sua família aguardavam na porta, com uma lamparina, cuja luz tênue teimava em expulsar a escuridão que se adensava. Após tirar a canga dos bois, guardar alguns pertences, não restava mais que ajuntar alguns adobes, armar uma trempe e cozinhar uma refeição ligeira, depois de procurar o córrego onde um fiozinho de água mal permitia encher um pequeno balde. Àquela altura, ninguém tinha ânimo para mais nada. Colchões foram estendidos pelo chão; após aquela jornada, nada mais restava a não ser desprezar o corpo na cama improvisada e dormir tranqüilamente.Uma explosão de madrugada, acorda todos. Parecia que todos pássaros haviam combinado em acordar os intrusos que acabam de chegar. A aurora de um novo dia já começava pintar no horizonte; incontável bando de periquitos, jandaias, pássaros pretos, araras, iniciavam uma sinfonia infernal. O raiar de um novo dia na vida de uma família que ousou enfrentar o desconhecido!
(GMP)

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