terça-feira, 23 de janeiro de 2018

PROFETAS DE ÁGUAS PASSADAS

PROFETAS DE ÁGUAS PASSADAS


 Eu sabia que isso ia acontecer; quando a gente passava, a ponte balançava toda; é o que se ouvia, mas depois que a ponte caiu. Somos assim mesmo, profetas de águas passadas. Depois do fato consumado, assumimos a nossa posição, geralmente de crítica, o que aliás,  pode até ser positivo, desde que não se trate de cdríticas vazias, sem conteúdo. Depois que a carreta de adubo detonou a ponte, todos se ajuntam a examinando os destroços, procuram um bode expiatório; dizem que o recente trabalho de restauração não foi bem feito, que o ideal seria uma ponte de concreto. Talvez o calcanhar de Aquiles fosse o jogo da cabeceira da margem direita, que traiçoeiramente não demonstrava fragilidade.
        Concordo que as pontes de madeira já estão ultrapassadas. Mesmo que hoje não há mais aroeira para os esteios, vigas, balanças, tesouras, travesseiros; muitos talvez não conheçam a técnica da construção de tais pontes, uma verdadeira engenharia cabocla. As peças são montadas de tal forma que desafiam as leis da física, talvez seja esse o segredo de tamanha resistência, pois aguentou por longos anos de trânsito pesado.
       O valor de uma ponte para a comunidade é inestimável, seja ela de madeira ou concreto...
Perdemos uma ponte de uma grande importância histórica, pois ela escoava as abundantes safras, quando a região recém desbravada, batia o recorde em produção agrícola. Interessante notar que, indiferente a todo reboliço, um exótico imbé incrustrado numa fenda da viga, dava um toque poético, contrastando com o colorido sombrio do madeirame.
            Melancolicamente chego a conclusão que ¨mais vale uma velha ponte de madeira do que as mais belas ilusões. Oxalá esteja sendo pessimista em exagero e  a solução apareça o mais depressa possível, para alegria de todos. Vamos torcer.
Cenas do Cotidiano
Dom Bosco, 06 de novembro de 2003

Geraldo Mendes Paiva

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