terça-feira, 23 de janeiro de 2018

O CAPÃO DO SARGENTO


O CAPÃO DO SARGENTO

A região da Novilha Brava, talvez por ser habitada por longos anos possui muita lenda; dentre as quais destacam-se as lendas em torno do Capão do Sargento.
Quem não conhece o Capão do Sargento? Contrastando com a vegetação em torno, seu porte destaca-se imponente, tendo ao lado o cerrado e aos seus pés a vargem. Muitas lendas rolam em torno de seu nome. Os antigos contam que em um conflito armado, teria tombado um sargento, que segundo afirmam, estaria sepultado debaixo de uma grande aroeira. Como sempre acontece, esses lugares são sempre palco de assombrações e o Capão não poderia fugir à regra. A estrada do Cascalho passava bem próximo; portanto era um suplício transitar por aquelas bandas, principalmente à noite.
Certo dia, um morador que estava trabalhando no Limoeiro, ficou batendo papo com os amigos até mais tarde, talvez se esquecendo que teria que passar pelo Capão. Tratou de encerrar o papo e apressou o passo, pois a tarde ia caindo impreterivelmente. Já começava tremer só de pensar que não tinha outro caminho; teria que enfrentar de qualquer jeito o maldito Capão. Tentava reunir coragem e espantar o medo, mas à medida que se aproximava, a sombra da noite começava desenhar a silhueta de assombrações; o ruído provocado pela brisa noturna ia criando um clima propício, as copas das árvores pareciam montanhas tenebrosas, ruídos provocados pelos rastejar dos bichos nas folhas secas deixavam o coitado ainda mais apreensivo; caminhava qual um condenado a caminho da forca. O caminho parecia um túnel sem fim; de repente, um farfalhar de folhas, um zumbido agudo e prolongado vindo justamente do lado da célebre aroeira o deixa de cabelo em pé; ao peso de sua mochila veio acrescentar um fardo gélido às suas costas. Correr? Não adiantaria, pois assombração corre mais que o vento. Com as pernas bambas só restava apressar o passo, embora ainda tivesse pela frente um bom pedaço de caminho. Quando ia se aproximando da Varginha das Gramas, como por encanto, já não sentia o tal peso gelado às costas, só mesmo a sua gasta mochila. Chegou à casa do retiro da Novilha Brava, aterrorizado; sua fisionomia denunciava o mau pedaço pelo qual tinha passado. Após tomar um copo de água, sentou-se e com a voz cansada, narrou o sucedido. Jurou de pés juntos que jamais passaria pela estrada do Cascalho depois de passar pelo que passou.
O fato veio reforçar as lendas em torno do Capão do Sargento. 
Infelizmente o Capão foi derrubado; as assombrações, com a derrubada, procuraram outro sítio. O nome do Capão não surgiria por acaso; antigamente o sertão foi palco de muitos conflitos armados, revoltosos embrenhavam por esses gerais e quando encontrava o inimigo, naquele lugar deixava as marcas; só mesmo aquelas aroeiras seculares poderão dizer o que testemunharam. Os monturos debaixo das árvores serão mesmo sepulturas? Não se pode garantir, embora a semelhança é grande...

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