A CASA DA NOVILHA BRAVA
Numa região totalmente desprovida de moradias, a casa-sede do retiro da Novilha Brava se destacava como uma sentinela avançada de uma civilização intrusa. Segundo os vestígios existentes, já foi bem grande e com muitos e espaçosos cômodos. Construída nos moldes da época, ostentava uma estrutura avantajada com peças de madeira de qualidade, como aroeira e peroba-rosa. Percebe-se que algumas peças, como portais e janelas podem ter vindo já prontos de Paracatu. Suas paredes de adobe, cuja grossura descomunal parecia tratar-se de uma fortaleza. A cobertura de telhas de ótima qualidade fabricadas na olaria situada no Pedro Gomes, córrego situado nas proximidades. Como moldura de fundo, destacava-se enormes mangueiras, o coqueiro sobrepondo as mesmas e a moita de bambu. Árvores altas bem próximas talvez prenunciasse o que poderia vir a acontecer no futuro...
Como toda casa antiga, sempre foi cercada de lendas e assombrações, o que impedia que alguém passasse ou dela se aproximasse após o crepúsculo. Foi cenário de disputas e sua porta principal traz marcas de balas de carabina, o que prova a existência de conflitos nessas paragens, talvez por volta do século XIX quando pertencia à Dona Joaquina de Pompéu. Nas proximidades existia o engenho no qual se fabricava rapadura e cachaça, a olaria, os açudes e regos de água; à frente o pequeno cemitério com seu cruzeiro de aroeira.
Em fevereiro de 1959, mais precisamente no dia 9, passa a residir na mesma o Senhor Irineu de Paiva, vindo para esta região em busca de terras; a casa da Novilha já fazia parte das áreas loteadas pela Colônia do Paracatu. Uma pequena reforma no ano seguinte descaracterizou parte da frente, sendo colocadas portas e janelas diferentes das originais; partes que já haviam desmoronado foram restauradas. Além de abrigar a família Paiva por longos anos, foi o cenário da primeira missa na região, mais precisamente em 13/03/63. Abrigou ainda por seis anos, a Escola da Novilha Brava, posteriormente transferida para a recém fundada Vila Santo Antônio, situada a 1,5 quilômetro. Foi praticamente o centro de referência da região: tudo de importante que acontecia, como reuniões, vacinações, posto de erradicação da febre malária, pouso de viandantes, encaminhamento de posseiros ao loteamento da reserva próxima, etc. Posteriormente já sem morador, serviu de depósito de arroz e milho, cuja produção era abundante na época.
Uma ameaça constante pairava sobre a casa. Uma árvore plantada muito próxima cresceu assustadoramente, tornando sua derrubada quase impossível sem prejudicar a integridade das benfeitorias. Na primavera de 1998, em 15 de setembro, a primeira chuva do período, acompanhada de ventos provocou o desastre temido, vindo cair exatamente sobre a casa partindo sua espinha dorsal a cumeeira, grossa peça de peroba. Tombava incontinenti aquela que serviu de abrigo e marco de penetração daqueles que, com a exaustão dos aluviões de ouro em Paracatu, se embrenharam por estas paragens em busca de pastagens nativas para a criação de gado.
Geraldo Mendes Paiva
2005
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