PROFETAS
DE ÁGUAS PASSADAS
Eu
sabia que isso ia acontecer; quando a gente passava, a ponte balançava toda; é
o que se ouvia, mas depois que a ponte caiu. Somos assim mesmo, profetas de
águas passadas. Depois do fato consumado, assumimos a nossa posição, geralmente
de crítica, o que aliás, pode até ser
positivo, desde que não se trate de cdríticas vazias, sem conteúdo. Depois que
a carreta de adubo detonou a ponte, todos se ajuntam a examinando os destroços,
procuram um bode expiatório; dizem que o recente trabalho de restauração não
foi bem feito, que o ideal seria uma ponte de concreto. Talvez o calcanhar de Aquiles
fosse o jogo da cabeceira da margem direita, que traiçoeiramente não
demonstrava fragilidade.
Concordo que as pontes de madeira já estão ultrapassadas. Mesmo que hoje
não há mais aroeira para os esteios, vigas, balanças, tesouras, travesseiros;
muitos talvez não conheçam a técnica da construção de tais pontes, uma
verdadeira engenharia cabocla. As peças são montadas de tal forma que desafiam
as leis da física, talvez seja esse o segredo de tamanha resistência, pois
aguentou por longos anos de trânsito pesado.
O valor
de uma ponte para a comunidade é inestimável, seja ela de madeira ou
concreto...
Perdemos uma ponte de uma grande importância histórica,
pois ela escoava as abundantes safras, quando a região recém desbravada, batia
o recorde em produção agrícola. Interessante notar que, indiferente a todo
reboliço, um exótico imbé incrustrado numa fenda da viga, dava um toque
poético, contrastando com o colorido sombrio do madeirame.
Melancolicamente chego a conclusão que ¨mais vale uma velha ponte de
madeira do que as mais belas ilusões. Oxalá esteja sendo pessimista em exagero
e a solução apareça o mais depressa
possível, para alegria de todos. Vamos torcer.
Cenas
do Cotidiano
Dom
Bosco, 06 de novembro de 2003
Geraldo
Mendes Paiva
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