O JOGO DO FALA A VERDADE
O jogo do “Fala Verdade”
Tarde de verão. À beira do gramado o povo regurgitava. Àquele tempo o futebol era atração máxima nas tardes de domingo. O convidado daquela tarde era o time do Fala Verdade, lá para as bandas de Unaí. Tudo preparado, o time local recebeu o adversário com muita consideração; um suculento jantar estava preparado e à noite haveria um grande baile para que os visitantes pudessem passar a noite da forma mais agradável possível. O jogo teve seu início na hora aprazada. A bola corria solta no gramado. Ora o ataque do adversário, ora o ataque da equipe local empurrada pela torcida aproximava-se da cidadela inimiga. Tudo corria às mil maravilhas, como acontece em toda partida entre civilizados; de repente, o inesperado aconteceu. Um simples e involuntário esbarrão entre jogadores e o juiz interveio como é de praxe, interrompendo momentaneamente a partida. Alguém dentre a torcida contrariando totalmente as normas segundo as quais ao juiz compete resolver as pendências dentro do campo, adentrou o campo partindo pra cima do jogador. Ato contínuo o campo foi invadido. Segundo dizem, alguém foi atingido por uma garrafa na testa; ao ver o sangue escorrer, perdeu-se totalmente o controle. Apesar dos apelos em vão dos organizadores, os jogadores saíram do campo acossados pela multidão enfurecida. Nem sequer puderam apanhar a roupa e demais pertences à beira do gramado; mesmo em trajes de partida foram obrigados a saírem em disparada em direção ao rio. A perseguição foi tamanha que homens, mulheres, crianças, numa verdadeira histeria coletiva, munidos de paus, pedras e tudo que encontraram pela frente acossaram os jogadores em disparada pela vargem rumo à canoa; com o barco quase naufragando de tanto peso, puderam alcançar a margem oposta embrenhando-se pela vazante. Passaram a noite em um rancho de roça, pois o chevrolet não tinha como prosseguir viagem àquela hora. Por incrível que possa parecer deixaram um banquete preparado com tanto capricho e tiveram que se contentar com milho verde e melancia. Ao invés do baile puderam apreciar o concerto promovido pelas muriçocas cuja sinfonia só terminou quando o dia raiou. O jogo do Fala Verdade se transformou numa manha negra no já consagrado futebol local. Por longos anos não foram realizadas disputas com equipes de fora. Também ninguém quis saber de andar para as bandas do Fala Verdade, temendo a merecida represália, é claro!
Você sabia?
• O primeiro campo de futebol foi construído em julho de 1959 em frente à casa da Novilha Brava. Os jogadores vinham dos arredores e formou-se um time muito forte. Depois jogou na vargem próxima ao arraial. Devido às inundações o campo foi mudado para a parte alta.
• O principal título conquistado foi a Taça da Independência em setembro de 1972, no sesquicentenário. Disputou a última partida com o time de Brasilândia e ganhou. Grande tumulto ocorreu, não aceitaram a entrega da taça provavelmente porque não admitiam perder para um arraial. A taça foi entregue ao time pela administração da Colônia, patrocinadora do torneio, embora não tiveram a glória de levantá-la no final da partida conforme previsto.
Tarde de verão. À beira do gramado o povo regurgitava. Àquele tempo o futebol era atração máxima nas tardes de domingo. O convidado daquela tarde era o time do Fala Verdade, lá para as bandas de Unaí. Tudo preparado, o time local recebeu o adversário com muita consideração; um suculento jantar estava preparado e à noite haveria um grande baile para que os visitantes pudessem passar a noite da forma mais agradável possível. O jogo teve seu início na hora aprazada. A bola corria solta no gramado. Ora o ataque do adversário, ora o ataque da equipe local empurrada pela torcida aproximava-se da cidadela inimiga. Tudo corria às mil maravilhas, como acontece em toda partida entre civilizados; de repente, o inesperado aconteceu. Um simples e involuntário esbarrão entre jogadores e o juiz interveio como é de praxe, interrompendo momentaneamente a partida. Alguém dentre a torcida contrariando totalmente as normas segundo as quais ao juiz compete resolver as pendências dentro do campo, adentrou o campo partindo pra cima do jogador. Ato contínuo o campo foi invadido. Segundo dizem, alguém foi atingido por uma garrafa na testa; ao ver o sangue escorrer, perdeu-se totalmente o controle. Apesar dos apelos em vão dos organizadores, os jogadores saíram do campo acossados pela multidão enfurecida. Nem sequer puderam apanhar a roupa e demais pertences à beira do gramado; mesmo em trajes de partida foram obrigados a saírem em disparada em direção ao rio. A perseguição foi tamanha que homens, mulheres, crianças, numa verdadeira histeria coletiva, munidos de paus, pedras e tudo que encontraram pela frente acossaram os jogadores em disparada pela vargem rumo à canoa; com o barco quase naufragando de tanto peso, puderam alcançar a margem oposta embrenhando-se pela vazante. Passaram a noite em um rancho de roça, pois o chevrolet não tinha como prosseguir viagem àquela hora. Por incrível que possa parecer deixaram um banquete preparado com tanto capricho e tiveram que se contentar com milho verde e melancia. Ao invés do baile puderam apreciar o concerto promovido pelas muriçocas cuja sinfonia só terminou quando o dia raiou. O jogo do Fala Verdade se transformou numa manha negra no já consagrado futebol local. Por longos anos não foram realizadas disputas com equipes de fora. Também ninguém quis saber de andar para as bandas do Fala Verdade, temendo a merecida represália, é claro!
Você sabia?
• O primeiro campo de futebol foi construído em julho de 1959 em frente à casa da Novilha Brava. Os jogadores vinham dos arredores e formou-se um time muito forte. Depois jogou na vargem próxima ao arraial. Devido às inundações o campo foi mudado para a parte alta.
• O principal título conquistado foi a Taça da Independência em setembro de 1972, no sesquicentenário. Disputou a última partida com o time de Brasilândia e ganhou. Grande tumulto ocorreu, não aceitaram a entrega da taça provavelmente porque não admitiam perder para um arraial. A taça foi entregue ao time pela administração da Colônia, patrocinadora do torneio, embora não tiveram a glória de levantá-la no final da partida conforme previsto.
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